O mesmo Jesus



No artigo “Outro Jesus”,  Luis F. Verissimo acusa a Igreja de nunca ter explicado nestes 2 mil anos a resignação de Cristo na cruz: “Deus meu, Deus meu, porque me abandonaste”. Um engano do escritor. Acertou ao dizer que a “perplexidade de Jesus na cruz é o que mais o aproxima de nós”, quase respondendo o que espera da teologia cristã. Afinal, Jesus é o Emanuel – o “Deus com a gente”, que sentiu fome, dor, agonia, tristeza. E abandono.

Quando um ser mortal tenta entender ou explicar o Deus-Homem que morre no Gólgota, acontece aquilo que diz a Escritura: “Deus, na sua sabedoria, não deixou que os seres humanos o conhecessem por meio da sabedoria deles”. E por simples razão: “A mensagem da morte de Cristo na cruz é loucura” (1 Coríntios 1.21 e 18). Aqueles que colocaram Cristo dentro de seu miolo cinzento, ou fizeram dele apenas um homem, ou apenas um Deus.

O apóstolo João, mesmo não entendendo, escreve que viu a revelação da natureza divina de Jesus – a Palavra que se tornou um ser humano (João 1.14). E adverte na epístola que, quem nega que Jesus Cristo é Deus e homem, não tem o Espírito de Deus e é inimigo de Cristo (1 João 4.3). Era uma resposta ao gnosticismo que invadia a igreja primitiva com idéias sobre um Jesus divino apenas vestido com um corpo, isto é, com aparência humana, e sem o sofrimento físico na cruz. Por isto as palavras do Credo Apostólico “padeceu sob Pôncio Pilatos” e do Atanasiano “É, portanto, fé verdadeira, que creiamos e confessemos que nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é tanto Deus como homem”.

Mas Verissimo tem razão. O terrível lamento de Jesus na cruz, abandonado por Deus, continuará ecoando sem a resposta que deseja. Paulo já tinha admitido: “Evidentemente, grande é o mistério da nossa religião: Ele se tornou um ser humano” (1 Timóteo 3.16). Existe, no entanto, outra história. Vem do Domingo da Páscoa. E que também não tem muita explicação. Porque, se Cristo não foi ressuscitado, a fé é uma ilusão, e continuamos perdidos nos nossos pecados (...) Mas a verdade é que... (1 Coríntios 15.17,20).
  
Marcos Schmidt - pastor luteran

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